Cirurgia bariátrica após os 65 anos: controvérsias e estado da arte

A cirurgia bariátrica e metabólica, enquanto intervenção altamente eficaz no tratamento da obesidade severa e resistente a outros tratamentos convencionais, tem alcançado notáveis sucessos terapêuticos. Contudo, a indicação destes procedimentos para indivíduos com idade superior a 65 anos tem suscitado controvérsias e discussões.

As indicações “clássicas” para cirurgia bariátrica e metabólica, estabelecidas há mais de duas décadas e ainda seguidas pela Direção-Geral de Saúde, excluíam pacientes com mais de 65 anos, devido às inerentes preocupações com riscos. Entretanto, os avanços médicos, aprimoramentos nos cuidados perioperatórios, sobretudo na prevenção e detecção precoce de potenciais complicações, além da evolução tecnológica em instrumentação cirúrgica, culminaram num maior perfil de segurança para esses procedimentos. Isso conduziu às recentes orientações da IFSO e da ASMBS, as principais sociedades científicas internacionais neste campo, as quais, em 2022, passaram a considerar a viabilidade da cirurgia bariátrica e metabólica para pacientes com mais de 65 anos.

Os possíveis benefícios destes procedimentos, como a melhoria das doenças associadas à obesidade (ex: diabetes, hipertensão arterial), a redução da necessidade de medicação crónica e a melhoria da patologia osteoarticular com incremento da mobilidade, têm um impacto particularmente relevante em pacientes com mais de 65 anos, grupo onde tais condições são bastante frequentes.

Todavia, os desafios e riscos pertinentes a essa faixa etária não podem ser subestimados: a menor capacidade de tolerância a complicações cirúrgicas decorrente de doenças pulmonares ou cardíacas associadas, a possível recuperação mais demorada devido a menor reserva fisiológica, bem como o aumento da vulnerabilidade a deficiências nutricionais que, por exemplo, podem agravar condições preexistentes como a osteoporose.

Nesse contexto, a indicação da cirurgia bariátrica e metabólica em pacientes com mais de 65 anos deve ser abordada por equipas multidisciplinares especializadas, preferencialmente em centros de referência. A avaliação meticulosa dos riscos e benefícios, aliada à personalização da decisão conforme a condição global de cada paciente, assume um papel preponderante. Os objetivos devem ser focados na melhoria da qualidade de vida e na otimização ou resolução das doenças associadas.

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